Em pesquisas feitas,
encontramos este documento que visando contribuir para a construção de
mecanismos de preservação da cultura popular, nos mostra relatos de idosos que
nos mostram a sua cultura, que mesmo sem escolaridade demonstram imensa
sabedoria popular.
A IDENTIDADE SOCIAL DO IDOSO:
MEMÓRIA
E CULTURA POPULAR
Silvane Aparecida de Freitas
Maria Jacira da Costa
“ Na antiguidade, a cultura de um povo era transmitida de pai para
filho, de geração para geração,apenas por meio da oralidade, sendo a memória
humana que conservava as histórias, as crenças, os costumes das pessoas, de
indivíduos que viveram, participaram dessa esfera cultural e outros fatos
relatados por seus antepassados. No entanto, com as transformações pela qual a
sociedade brasileira passou, devido ao processo de industrialização e aos
avanços tecnológicos, a humanidade tem buscado novas conquistas e descobertas
que trazem ao homem atual facilidades que os antigos não tinham.
Partimos do princípio que todo ser humano tem sua cultura e a promove na
medida em que se comunica com o outro. Consideramos que a cultura das pessoas
menos escolarizadas é rica em sabedoria popular, brotada do senso comum, da
intuição, que é a origem do conhecimento erudito. Ao buscar compreender a
identidade cultural de pessoas com mais de sessenta anos, queremos também
refletir sobre a educação, bem como os mecanismos internalizados e as contribuições
que nos trouxeram. Sabemos que uma grande parte dessa geração não possuía
conhecimento escolarizado devido à política, ao sistema de exclusão, e a
cultura da época não valorizava esse tipo de conhecimento, já que a leitura e a
escrita eram privilégios de poucos.”
João Batista, de 65 anos, fala da influência da luta sobre a natureza e a importância disso em
nossas vidas:
“Lá na roça a gente sabe quando está para chover, é
só olhar para lua e observar o círculo em torno dela, se estiver longe, significa
que a chuva está próxima, se for o contrário significa que a chuva está longe.
As fases da lua interferem muito sobre os nossos atos, a lua rege a nossa
vida.”
Sebastião Jacinto de 80 anos que é enfático ao dizer que apesar do avanço que o mundo deu, muitas
coisas mudaram para pior; as pessoas não têm mais sossego, andam todas tristes,
violentas.
“Naquele
tempo não existia as tecnologias que existe hoje, por isso as pessoas tinham
outra mentalidade, com o aparecimento da luz elétrica e tudo o que ela proporciona
como a televisão, as notícias, a moda, as pessoas perderam o interesse nas
reuniões de fim de tarde, onde se falava desde assuntos de família até as
anedotas, as piadas, os versos, as histórias populares que como consequência
ficaram esquecidas e foram substituídas pelas novelas e os causos da
atualidade. A maneira como as pessoas se divertiam antigamente era outra, os
namorados só se comunicavam por olhares, sinais e gestos, nem pegar na mão
podia. Antigamente, o homem apaixonado escrevia cartas de amor, poesias, verso,
fazia serenata, tudo para conquistara mulher amada. Os casamentos eram para a
vida toda, e quando acontecia separação, a mulher ficava mal vista e ganhava
nome de mulher àtoa.”
Geralda Ferreira, 74 anos, se espanta com as mudanças e julga o progresso
como algo negativo que acabou com as coisas boas do passado. Ela desabafa:
“Quando demorava a chover faziam-se promessas para combater a seca o
povo se reunia, saia pelos campos em oração, havia as penitências como carregar
pedra na cabeça e colocar ao pé da cruz, a reza do terço e, as prossições até a
igreja. No meu tempo a quaresma era uma época em que as pessoas se apegavam em
oração e jejum, diziam que as forças do mal se manifestavam com mais
intensidade. Por isso, aparecia lobisomem e mula sem-cabeça, não havia festas e
bailes. Na Sexta- Feira Santa, tinha todo um ritual, não se praticava a ordenha
nas vacas, porque segundo diziam, ao invés de leite sairia sangue, cobriam-se
todos os espelhos por que se olhasse veria outra imagem refletida e não a sua.
A páscoa era comemorada junto com os familiares e não
havia esse
comércio de chocolate como hoje em dia, presenteava-se com ovos decorados
simbolizando a ressurreição de Jesus.”
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