quarta-feira, 18 de abril de 2012

A Interconexão entre Saberes, Práticas e Percepções: o Mediador entre Cultura e Natureza.


A Interconexão entre Saberes, Práticas e Percepções:
 o Mediador entre Cultura e Natureza.

O Perspectivismo proposto por Viveiros de Castro (1996) seria um  pontos onde natureza e cultura se encontram sem uma hierarquia dicotômica de influência entre ambas. Embasada numa visão um tanto geral dos índios que habitam as terras baixas sul-americanas, esta teoria, descrita de uma forma geral, coloca não o homem dentro da natureza nem os animais dentro da sociedade. Cada ser teria sua cultura, sua sociedade, independente de ser humano, animal ou planta e esta seria uma característica geral, possuir uma forma de organização e um código organizador. A ‘humanidade’ seria uma condição básica e não final a todos estes seres.

Pensamento de  Morgan. Para ele a cultura faz parte da natureza, a história humana parte da história natural: "pensamento é reconhecimento e a mente é um veículo pelo qual a natureza é compreendida como cultura" (Sahlins, 1979:73). A cultura é movida por "...uma lógica prática, biológica nos primeiros estágios, tecnológica nos últimos" (Sahlins, 1979:71). Ele privilegia as vantagens adaptativas que uma determinada atitude possa vir a ter.
Um modelo
Partindo da  discussão sobre as origens do Perspectivismo e seu efeito de encaixar a cosmologia no centro da relação do homem com o meio ambiente, proponho um modelos que facilite a visualização de todo este processo de intermediação entre a esfera humana e a natural (dentro de uma visão ocidental), segundo os parâmetros de diversos grupos indígenas das terras baixas sul americana. Nele, propositadamente, a referência à cultura e natureza é omitida, uma vez que ambas estão em situação de igualdade hierárquica, elas estariam tanto por fora quanto por dentro do desenho, se equilibrando e contrabalanceando em todos os níveis.
 Os processos de interconexão entre saberes, práticas e conhecimentos relativos ao meio ambiente seriam exemplificados pelo seguinte modelo:
figura 1
onde:
A - Como os Saberes se transformam em atitudes;
a - Como as Práticas influem na elaboração do Saber;
B - Como o que praticam influi na Percepção;
b - Como o perceber influi nas Práticas;
C - Como o percebido se torna conhecimento;
c - Como o que sabem influi no que percebem;
x - Esfera dos Saberes, onde estão as maneiras que o conhecimento é acumulado;
y - Esfera das Práticas, onde se encontram as atitudes efetivas;
z - Esfera da Percepção, onde se agrupa o que é percebido do meio-ambiente.
 
 
Este ciclo externo (as flechas e esferas) é uma forma de introdução e encaminhamento ao espaço S, onde a interconexão entre as esferas se dá de forma integral, um lugar onde se encontram os elementos que são ao mesmo tempo base e resultado do ciclo externo, num movimento de contínua retroalimentação.
Um indivíduo é influenciado pelo ecossistema em suas atitudes em relação à este, adotando comportamentos compatíveis com a solução de problemas que surgem no dia a dia de sua sobrevivência.

ciclo externo 
Estando portanto mais do que detalhado o papel da cosmologia no centro do modelo, resta falar um pouco no ciclo externo, também formado e formador do centro

A - Como os saberes se transformam em atitudes
O conhecimento só é efetivado no que é transformado em atos e através disso a esfera dos saberes tem ação direta sobre a das práticas. O que conheço vai influir diretamente sobre o que faço, no como faço.
Mas o processo de como os saberes efetivamente se transforma em atitudes nos faz novamente remeter à cosmologia, sendo uma das facetas desta. É nela que o conhecimento é acumulado, fruto da interação entre os diversos membros da sociedade e é ela que legitima e codifica os atos.

B - Como o que praticam influi na percepção;
Enquanto ajo de forma mais constante com um meio, começo a perceber detalhes dele que antes me passavam em branco. Quanto mais tenho que interagir com determinado ambiente, mais atenção devoto a ele, mais percebo dele.

C - Como o percebido se torna conhecimento;
Retomo aqui novamente a cosmologia e desta vez lanço mão dos Desana (Reichel Dolmatoff, 1978). Este povo lança mão de uma quantidade de informações sensoriais como cor, odor e sabor e estes dado oriundos da visão, olfato e gosto são devidamente organizados pelo seu sistema cosmológico, fonte de uma quantidade de símbolos culturais específicos que elabora associações entre estas categorias sensoriais e transforma estas informações brutas em classificações que orientam o a procura e o consumo de alimentos.

a - Como as práticas influem na elaboração do saber;
Quanto mais um povo se utiliza de determinado recurso, mais este recurso é alvo de estudo.

b - Como o perceber influi nas práticas;
O modo como o ambiente é percebido influi diretamente no como se deve agir sobre este ambiente.

c - Como o que sabem influi no que percebem;
Uma vez delimitado uma gama de conhecimentos acerca do meio ambiente, ou mesmo de um ponto dentro deste meio, este corpo de informações formata sua percepção.

Vale a pena conferir na intrega

Publicado Elizabete Regina Pereira de Oliveira. UABIII, Polo Ilicinea, MG.


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