quinta-feira, 31 de maio de 2012

ENTREVISTA SABERES POPULARES


UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA/UABIII
FACULDADE DE EDUCAÇÃOCENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
FUNDAMENTO TEÓRICO METODOLÓGICO E PRÁTICA ESCOLAR EM CIÊNCIAS I –

Professor: Guilherme Tropia Barreto de Andrade
Tutora a distância: Ana Cristina Atala Alves
Aluno(a): Kênia Evangelista da Silva Dias
Pólo: Ilicínia – UABIII – 2º Período/2012

ENTREVISTA

1-Nome completo?
Jandira dos Reis de Paula (Dona Jandira) (Minha avó).
2-Idade?
86 anos
3- Cidade onde mora?
Moro em Alpinópolis – Minas Gerais
4-Estado civil?
Viúva há 23 anos
5-Naturalidade?
Divinópolis – Minas Gerais
6-Quantos filhos?
Tenho 13 filhos, todos vivos.
7-Profissão?
Sempre foi do lar e nunca trabalhei fora. Meu marido era militar e nunca deixou que eu trabalhasse. Antes de me casar, aos 16 anos, eu trabalhei como doméstica na casa de conhecidos de minha mãe.
8-Um sonho realizado?
Ter conseguido comprar a minha casa ainda junto com meu marido antes dele falecer.


09-Sente saudade de?
Sinto muitas saudades do meu falecido marido e também dos meus pais. Também sinto saudades de quando morava em cidades que possuíam linhas férreas e a gente tinha que viajar de trem de ferro. Esse tempo me dá saudades de quando via o trem de ferro atravessar a cidade apitando e soltando fumaça. Meus filhos corriam sempre para vê-lo. Bons tempos aqueles!
10-Lugar inesquecível?
Eu morei em dezenas de cidades devido ao meu marido ser militar e ter que ficar mudando sempre. Em cada cidade uma história, algo diferente que ainda guardo comigo em minha memória. Todas as cidades e moradas, se tornaram inesquecíveis para mim.
11-Fale um pouco sobre a sua vida.
Nasci em Divinópolis, Minas Gerais e sou de uma família muito humilde. Não tive irmãos. Meu pai trabalhava como motorista de trem de ferro e minha mãe às vezes trabalhava em casas de conhecidos como doméstica. Meu pai faleceu novo em um acidente com o trem que ele dirigia. Minha mãe ficou viúva aos 27 anos de idade e eu contava com 11 anos de idade. Ela não quis se casar novamente e passou a dedicar sua vida, logo após que me casei aos 16 anos, a cuidar de pessoas doentes, a trabalhar em hospitais, em igrejas, em casas de famílias...
12-O que você gostava de fazer antigamente, e que hoje não faz?
Eu gostava muito de sair para pescar com meu marido e com meus filhos mais velhos. Era a nossa diversão, já que não tínhamos condições de termos outros tipos de lazer.
13- Havia muitos costumes e tradições antigamente que nos dias atuais já não existem mais. Conte-nos alguns que a senhora recorda-se.
- Eu me lembro que nas casas não tinha energia elétrica e para clarear a noite, usávamos lamparina com querosene.
- Para tomar banho, ou usávamos bacias grandes ou latão com alguns furos que era pendurado em algum cômodo que servia de banheiro e então o enchíamos de água quente e fria e a água ia saindo pelos furos para que pudéssemos no lavar. O banho durava apenas o tempo da água acabar.
- Cozinhávamos feijão em fogareiros feitos de serragem de pau. Enchíamos uma lata de serragem e colocávamos fogo. A serragem ia queimando aos poucos e cozinhando o feijão.
- Não existia gás de cozinha e tudo era feito no fogão de lenha em panelas de barro ou de ferro.
- Para preparar os alimentos usávamos gordura de porco que nós mesmos criávamos nos quintais das casas.
- Também aproveitávamos o calor do fogão de lenha para secar toucinho no sal em um arame pendurado em cima do fogão de lenha para que ele se conservasse. O restante da carne de porco, a gente cozinhava e guardava em latas com gordura. Duravam meses conservadas nessas latas.
- Com a gordura de porco, ainda fazíamos sabão para lavar as roupas e louças.
- Para passar as roupas, usávamos um ferro muito pesado com brasas de carvão dentro.
- Os remédios eram chás e ervas que tínhamos em nosso próprio quintal.
- O café era limpo em pilões com força braçal e depois a gente mesmo torrava no fogão de lenha e moia em pequenos munhos.
14 – A senhora tem alguma recordação de sua infância, de alguma coisa que era usado para alguma utilidade e que hoje não se usa ou quase não se vê mais?
Meus avós moravam na zona rural e me recordo que no pequeno sítio onde viviam, tinha um moinho movido a água onde meu avô fazia fubá. Era muito interessante ver como ele funcionava socando milho por milho até virar pó e se transformar no fubá. Hoje quase não se vê mais desses moinhos e nem sei se eles ainda existem.
Outra coisa que tinha no sítio de meu avô, era um carro de boi que ele usava para buscar lenha, carregar pedras, sacos pesados e até mesmo para ir a cidade fazer pequenas compras em armazéns. A gente ouvia de longe que ele estava chegando da cidade por causa do “canto das rodas” do carro de boi como o povo antigamente usava falar. Quanto mais pesado o carro estava, mais alto era o canto das rodas. Também já não vemos mais carros de boi pelas cidades. Somente em alguns pequenos sítios que ainda conservam como lembranças ou como enfeites.
15 – Do que a senhora sente saudades daquele tempo?
Da calmaria, do sossego e da simplicidade em que vivíamos. As pessoas não corriam tanto e era muito comum parar para conversar, visitar um parente ou um compadre ou ainda um amigo para se bater um papo que durava horas. Naquele tempo não existia televisão e as pessoas gostavam disso. Hoje com tanta tecnologia, computador, televisão, todo mundo se isola e pouco se relacionam uns com os outros.
Lembro que minha avó gostava muito de contar histórias para a gente dormir, histórias tradicionais que eram passadas de geração para geração e outras que eram inventadas, os chamados “causos”.
Hoje em dias as crianças não ligam para isso e só querem televisão, vídeo-game e a tal da internet.
Não havia tanto conforto como nos dias atuais, mas o que tinha dava para a gente sobreviver.
Gosto do mundo atual, mas sinto falta das dificuldades de antigamente, das poucas coisas que existiam e da alegria e simplicidade do povo em geral.

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