terça-feira, 22 de maio de 2012


UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA/UABIII
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
FUNDAMENTO TEORICO METOLOGICO E PRÁTICA ESCOLAR EM CIÊNCIAS I
Professor: Guilherme Tropia Barreto de Andrade
Tutora a distância: Ana Cristina Atala Alves
Aluna: Rosilane Aparecida de Araújo Lima

                                        
                                      Entrevista com Aparecida Paim de Lima
            Nascida no dia 06 de outubro de 1923, hoje com 88 anos de idade. Atualmente reside na cidade de Alpinópolis, Minas Gerais.
Na sua infância e juventude, residia na Fazenda dos Costas, município de Alpinópolis.

Rosilane: Como era a vida da senhora na infância e juventude?
D. Aparecida: Na minha infância eu brincava com retalhos de pano que a minha mãe dava, dos restos das costuras que ela fazia. Minhas roupas e de toda a família eram todas confeccionadas por ela. Ao mesmo tempo em que brincava, pajeava meus quatro irmãos. Também brincava de fazer boizinhos de sabugo de milho para meus irmãos e dava até nomes a eles. Andava pelo pasto colhendo frutinhas. Contava histórias.
A alimentação da época era farta e tudo natural. Comia à vontade o que quisesse: debulhava amendoim e comia, abria o caixote e comia açúcar mascavo, tomava leite tirado da vaca, na hora. Mamãe fazia muitas quitandas. As carnes eram guardadas na gordura, o arroz, o feijão, o milho, eram todos plantados e colhidos na roça para o consumo e também para vender.
Andava 12 km a pé para ir à escola, que ficava também na zona rural. Cada um levava a sua merenda que era: queijo, requeijão, mexido de ovo, quitanda, tutu de feijão; cada dia uma coisa, mas tudo feito em casa.
Na minha juventude eu ajudava muito nos afazeres da casa. Fazia pamonha e mingau com fartura.
Os interesses particulares (os paqueras) eram muito reservados, os pais não podiam saber. Os passeios eram nas casas dos tios, primos, onde se reuniam os parentes e amigos para cantar, tocar violão, sanfona e dançar.
Os namoros eram de longe, não ficávamos sozinhos hora nenhuma.
Quando ia à cidade, em época de festa, a cavalo, estava sempre acompanhada por alguém conhecido da família e tinha hora de ir embora. As bebidas alcoólicas eram muito raras nas festas.
Também ia a cavalo à missa aos domingos. Tudo o que fazia era com a ordem dos pais.

Rosilane: Que diferenças a senhora percebe no mundo hoje e no mundo com o qual vivenciou na infância e juventude?
D. Aparecida: sobre a infância, percebo diferenças nos brinquedos, hoje são todos prontos, ninguém precisa construir ou inventar. Brinquedos de controle remoto, bonecas que falam, no meu tempo não tinha nada disso. As crianças hoje ficam muito tempo vendo TV e brincando no computador.
Os alimentos de hoje são a maioria industrializados, pouca coisa feita em casa.
A juventude de hoje tem toda a liberdade, não tem muito respeito com os pais e mais velhos, cada um age como pensa. Os namoros são livres, os passeios são muito badalados e com muita bebida alcoólica.

Rosilane: Que ações, atividades que a senhora e seus parentes faziam há 50 anos e que hoje não fazem mais?
D. Aparecida: Fabricar as linhas e as colchas manualmente, usar roupas somente feitas em casa, torrar e moer o café em casa, inventar e construir os próprios brinquedos, comer tudo natural, sem conservantes.
Ir a cavalo ou a pé de uma cidade à outra e também para a escola na roça.
Guardar açúcar mascavo no caixote, trocar fubá no moinho de pedra tocado com água (levava-se o milho e trocava por fubá).
Fazer festas apenas com o som de sanfona e viola.
Tomar banho na bacia, no quarto, pois não tinha banheiro. A privada de buraco para as outras necessidades ficava no quintal.
Olhar a previsão do tempo apenas observando a natureza e alguns animais, como por exemplo: Quando a saracura cantava era porque estava chamando chuva, ou se as formigas estivessem alvoroçadas também ia chover e outras coisas que os mais experientes entendiam.
Plantar, colher e controlar as pragas das plantações apenas com a enxada ou arado de bois.
 Construir casas sem cimento (usando barro no lugar); com telhas e tijolos feitos à mão; sem piso (era de terra); sem engenheiro, apenas com algum pedreiro mais experiente.


Rosilane: O que mudou aqui nesta cidade da infância e juventude da senhora até hoje?
D. Aparecida: No meu tempo não tinha calçamento e nem água encanada dentro de casa, pegávamos a água em uma torneira que ficava na rua. Hoje a água é encanada dentro de casa. A energia elétrica só existia na cidade e era muito precária, não clareava quase nada. Na roça não havia energia elétrica, usava-se lamparina e lampião a querosene, nem gás não existia. Hoje tem energia até nas roças. Não havia rede de esgotos, hoje já tem.
Não havia nenhum carro motorizado, apenas cavalos, carroças e carros de bois. As ruas não eram calçadas nem asfaltadas. Hoje existem milhares de carros e ruas calçadas.
Não havia hospital, quando era preciso, tinha que ir para outra cidade. Os remédios eram comprados em uma única farmácia que tinha na cidade e marcados em contas, que eram pagas somente depois das colheitas, época em que arrecadava algum dinheiro.

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