sábado, 26 de maio de 2012

RELAÇÕES ENTRE OS SABERES POPULARES E OS SABERES ESOLARES

Sebastião Jonas da Silva

Nasceu em Carmo do Rio Claro - MG, em 1941 filho de Antônio Jonas Silva - lavrador e Maria Benedita Moreira - Do lar. Casou-se aos 25 anos com Maria das Graças Silva, juntos tem 8 (oito) filhos e 5 (cinco) netos. Após longos anos de dedicação ao serviço na roça, aposentou-se recentemente.

Marisa - Como era sua vida na infância e juventude?

Sebastião - Em minha infância não havia a diversidade de brinquedos que existem atualmente, e eram só as pessoas mais abastadas que compravam, sendo assim eu criava e construia os brinquedos para que eu pudesse brincar, com o sabugo de milho fazia carrinhos de boi, quebrava o sabugo no meio e fazia bezerrinhos, carrinho de lata de marmelada, carrinho de carretel de linha e a traseira era de lata de sardinha, usava o caco de cuia para fazer as rodinhas que eram arredondadas com um canivete, palhas de bananeira eram utilizadas para fazer a carroceria do caminhão, a bola era feita de lobeira e meia velha outra hora de meia velha e trapos, nadava no ribeirão, andava a cavaloa garupa de meu pai (na cabeça do arreio), pique esconde, roda (tatu quer sair), montava nos carneiros que corria e corria muito eu caia, levantava e subia nele novamente (risos), brincava nos regos d'água, fazia arapuca para pegar passarinhos, enchia o carrinho com terra de formigueiro e puxava no caminho que as formigas faziam na terra,despejava e voltava novamente para pegar mais terras. Na juventude levava almoço para o meu pai que trabalhava capinando lavouras de café, milho e arroz, e eu também trabalhava nas lavouras, ia muito nos saudosos bailes onde eu dançava muito forró, tocava sanfona, éramos avisados de um baile para o outro qual seria o dia do próximo forró, tinha muita quitanda como bolo, biscoito as quitandas eram chamadas também de CUBU, as vezes eu e meus colegas pegávamos quitanda e colocávamos nos bolsos para comer depois, as bebidas eram chá de alfavaca, quentão quando estava nos meses de festa junina, café, os rapazes mais velhos levavam pinga e escondiam nas moitas, eu e meus colegas ficávamos vigiando (sondando) onde eles iam guardá-las para que mais tarde pudessem beber era uma forma de diversão bebiamos um pouco, guardava o restante, ouras vezes jogávamos a pinga fora e guardávamos só a garrafa no lugar.

Marisa - Que diferenças o senhor percebe no mundo hoje com o qual o senhor vivenciou na infância e juventude?

Sebastião - A escola ficava longe, e haviam poucas no municipio, eu não tinha aperto dos meus pais para estudar, mesmo porque eles tinham pouco estudo. Não usava pressionar (apertar) os filhos para que eles estudassem, estudava só os que queriam estudar, as escolas públicas iam só até a quarta série, depois disso só estudava quem pudesse pagar, eu não ia para escola e quando ia não me importava com nada, depois da escola ia capinar, trabalhar, hoje as crianças desde muito pequenas já são pressionadas à estudar, o ônibus passa na porta de casa para levá-los para a escola.
As brincadeiras de antes eram melhores que hoje, hoje as crianças não tem tempo nem para brincar,  e quando vão brincar é na frente do computador, disse que quando era criança brincava muito não se importava com o futuro só vivia o presente, e cita que pressão dos pais para ele estudar nãoexistia, a alimentação era melhor não existia veneno nos alimentos, não existia óleo as comidas eram feitas de gordura de porco e de vaca, usava banha de porco, as vacas eram engordadas só no milho, vaca de leite só se alimentavam da invernada (pasto grande), usava sal para alimentar as vacas, não tinha trato, os alimentos eram puros e o leite mais saudável.

Marisa - Que ações, atividades que o senhor e seus parentes faziam há 50 anos, que hoje não fazem mais?

Sebastião - Os passeios na casa dos avós, tios os pais chamavam e eu ia alegre e não ir era falta de respeito e falta de educação, jogava truco na casa dos vizinhos, jogava bola na roça com os amigos, tinha leilão na roça para arrecadar dinheiro para as igrejas, ia nas missas à cavalo, tinha muita novenas e terços nas capelinhas, depois das novenas tinham os bailes e eu as vezes ficava para os bailes que aconteciam depois da novena, não tinha televisão nem rádio, teve acesso a televisão depois de alguns anos que se mudou para a cidade, quando tinha casamento ia ao menos um da família que sempre dava um presente por mais simples que ele fosse havia o costume de servir licor nos casamentos, o aniversário era comemorado em casa e sabiam que estava sendo comemorado porque era feito um almoço melhor.

Marisa - O que mudou na cidade que o senhor mora da sua infância e juventude até hoje?

Sebastião - A quantidade de habitantes aumentou, a cidade cresceu, as ruas na minha época eram só de terra hoje são asfaltadas, não tinha loja de roupas e sapatos, o costume era tirar as medidas e sapateiros e alfaiates faziam as roupas, antes nosso meio de transporte era o cavalo hoje tem muitos carros, motos, não tinha água encanada quando morava na roça pegava água nas latas e guardava para usar á noite nos banhos, para beber, lavar louças porque durante o dia as roupas e louças eram lavadas no ribeirão, quando mudou para a cidade cada casa tinha uma torneira e eram usadas fossas sépticas tanto na roça quanto na cidade, energia elétrica também não tinha eram usados lamparinas, lampião não tinham postes nas ruas mas já existiam postes na cidade, para conseguir energia em casa era preciso que mais pessoas que morassem na mesma rua quisessem colocar energia em sua casa e só depois de uma quantidade determinada é que colocavam postes na rua e as casas passariam a ter energia elétrica, e mesmo assim cada casa tinha uma lâmpada que era bem fraquinha não era clara como são as hoje, os banhos continuaram na bacia só depois que colocou chuveiro a energia acabava sempre, os trabalhos eram a maioria nas roças e ia a pé não importava a distância tinha que ir e voltar a pé, gostava porque riam e conversavam bastante porque ia junto com seus colegas para o trabalho, lembrou bastante dos médicos disse que não tinha a quantidade que tem hoje e que o que usava muito eram os farmacêuticos medicarem os médicos eram em último caso porque era tudo longe e tinham poucos médicos, quando alguém era picado por cobra esperava morrer porque não existia medicamentos e nem tratamentos lembrou muito do médico Dr Luís Introcaso Filho, bem conhecido por todos os carmelitanos.

Marisa - Como era o plantio em terrenos íngremes?

Sebastião - O que fazia primeiro era arar a terra com arado de boi (um homem segurava o arado e o outro fazia as covas), depois passava o quebra terrão (um pedaço de pau grosso amarrado no boi), só tocava o gado e ele ia passando e quebrando os terrões, para plantar fazia o buraco com a enxada e jogava as sementes e mudas com as mãos e passava a mão por cima para fechar as covas, não usava colocar agrotóxicos, só colocava esterco quando a terra era bem fraca e veneno só em formigas colocava o veneno nos buracos das formigas e empurrava pra bem debaixo da terra, não existiam pragas como existem hoje não tinha necessidade de fazer controle rigoroso das pragas aparecia uma ou outra praga.

Marisa - Como era feito a conservação dos alimentos?

Sebastião - A carne era conservada na gordura, os alimentos ficavam dentro da panela em cima do fogão porque não tinha geladeira, as verduras eram plantadas na horta e panhavam de acordo com a necessidade de consumo, a água para tomar era guardada em vasilhas de barro nõ tinha filtro.

Marisa - Como eram feitos os diagnósticos, prevenção e tratamento das doenças?

Sebastião - Muitas pessoas adoeciam até morrer e não sabia que doença tinham, o aparelho de medir pressão era mais conhecido por todos, quem medicava muito eram os farmaceuticos e usava muito remédio de horta ( os famosos chazinhos).

O senhor Sebastião Jonas da Silva é natural de Carmo do Rio Claro e sempre morou na roça chamada Itapiché se mudou para as cidade para que os filhos pudessem estudar.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA/ UAB III
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
FUNDAMENTO TEÓRICO METODOLÓGICO E PRÁTICA ESCOLAR EM CIÊNCIAS I
PROF: GUILHERME TROPIA BARRETO DE ANDRADE
TUTORA A DISTÂNCIA: ANA CRISTINA ATALA ALVES
ALUNA: MARISA CRISTINA SILVA















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